|
No dia 16 de Abril de 1999, Neusa Celeste Vieira Bighetti, em sessão
solene na Câmara Municipal, recebeu o Título de CIDADÃ
RIBEIRAOPRETANA , numa propositura do vereador Barquet Miguel.
Uma sessão prestigiadíssima por 19 vereadores , com músicas
cantadas por 50 crianças do Coral da Creche Modelo Vila Virginia.
Discurso de Neusa Bighetti:
A primeira vez que subi num palco para declamar, foi na formatura do Jardim
de Infância em Cajuru. Mas eu não falei nada; fiquei assim
(faz os gestos com os dedos) e olhando para a platéia durante alguns
segundos. Aí, alguém me tirou do palco. Apesar do fiasco
fui muito aplaudida. Hoje, espero que isso não se repita.
A segunda vez, também para falar, foi quando fui oradora da turma
do Curso de Secretariado da Escola SENAC "José Gomes da Silva"
e assim iniciei o meu discurso: "A honra deste momento não
a desfruto sozinha, comigo toda uma geração fala e se expressa,
toda uma pleiade jovens idealistas (agora menopausadas) vibra e agradece,
contudo coube-me o privilégio de ser a sua porta voz e tentarei
cumprir tão digna tarefa.
Ilmo senhor Antônio Carlos Morandini, DD presidente da Câmara
Municipal de Ribeirão Preto;
Ilmo senhor Dr. Luis Roberto Jábali DD prefeito municipal de Ribeirão
Preto;
Ilma senhora Mariana Aude Jábali DD primeira dama e presidente
do fundo de Ação Social
Ilmo senhor Dr. Cid Velludo Salvador DD presidente da 12 Subsecção
da OAB;
Nasci no Sítio Mimoso, município de Cajuru, no dia 06 de
Abril de 1945, em plena 2a. Grande Guerra Mundial. Sou da geração
da culpa, a quarta filha de Francisco Vieira (que também foi conhecido
como Cajuru ou Chico Custódio) e de Brígida dos Santos Veira.
Minhas irmãs são: Maria de Lourdes, Idonéia e Marlene.
Família de classe média e com pequeno patrimônio,
oriundo da venda de rapaduras (meu pai tinha um pequeno engenho) já
que na guerra havia faltado açúcar, meus pais se mudaram
para a cidade, a fim de montar algum negócio. Meu pai, como mau
negociante em pouco tempo esgotou com as economias e nós continuamos
a ver o mesmo filme, minha mãe lutando para sustentar a prole;
ora costurando, ora fazendo salgados. A figura feminina sempre foi muio
forte e marcante em nossas vidas. Mas sempre tínhamos o essencial
e de boa qualidade, pois minha mãe sempre usava uma frase de sua
mãe que se tornou minha filosofia de vida. "A CAVALO NEM SE
FOR NUM PORCO", ou seja, não precisamos ter vários
vestidos de festa, basta um, de bom tecido, bem lavado, passado e engomado.
Coisas que Dona Brígida fazia com perfeição. Capricho,
economia e trabalho são suas principais virtudes. Dona Brígida
sempre zelava para que pudéssemos ter uma boa educação
e uma formação religiosa, já que ela pertencia a
irmandade do Sagrado Coração de Jesus. Minha infância
foi das mais sadias. Ser criança em cidade pequena é inesquecível.
Vou me encontrar nessa fase como Chapeuzinho Vermelho. De Ribeirão
Preto só sabia que era a cidade que minha mãe comprava maçãs,
ja que em Cajuru, não as tínhamos. Quando ela vinha para
cá, na volta, ao descer da jardineira, já sentia o cheiro
delicioso que me inebriava.
Aos 11 anos, quando terminei a primeira série ginasial, nos mudamos
para Ribeirão Preto, no dia 08 de Março de 1957. Fomos morar
na Quintino Bocaiuva 44, ao lado do Colégio Marista. Depois de
uma grande batalha consegui uma vaga na segunda série do Otoniel
Mota, a princípio não me adaptava, mas logo fui fazendo
amizades e boas amizades.
Me lembro nos quinze anos de Vera Marchesi, da qual era grande amiga,
ajudei a preparar os convites, enfim participei de toda organização
da festa, mas e eu com que vestido iria? Minha mãe reformou uma
roupa de tafeta que minha irmã Lourdes havia desfilado em São
Paulo. Era cor azulão e eu durante um mês, bordei um cinto
bem largo com miçangas e lantejoulas prateadas. Mas o sapato, só
tinha um par oxford de ir a escola, um tênis para ginástica
e um preto de saltinho para ver Deus. Que fiz!! Pintei meu sapato de prateado,
e lá fui para a festa dançar a valsa, tudo corria sobre
patins, mas quando olhei no sapato do meu parceiro, ele estava prateado
e o meu na sua cor original, preto. O Estadão eu amava e até
hoje agradeço os mestres que passaram pela minha vida.
Se hoje tenho um bom português devo a Dona Lucy Musa Julião,
quando alguém falava: para mim fazer, ela logo respondia, mim não
faz, mim não bebe, mim não come, é: "PARA EU
FAZER". Ou Dona Lucy, eu vi ela, " viela é uma rua estreita,
é "EU A VÍ". E nosso querido Dr. Romero Barbosa
só nos ensinava a divisão da história geral. Se o
encontrássemos na rua; não era pra falar bom dia, mas sim:
Cesar, Augusto, Tibério, Calígula, Claudio, Nero, Galba,
Oton, Vitelio, Domiciano, Tito e Vespasiano, ou 395, 476, 1453, 1789,
1815, 1945. ( é a divisão da história geral).
Com Dona Zita Secaf, aprendemos inglês e as músicas americanas
da época, Diana pôr exemplo.
O senhor Marturano sempre no dizia que "Em todo triângulo Isóceles,
os ângulos da base são iguais".
Com o senhor Mário de ciências, "Que o coração
é um órgão muscular oco, situado entre os dois pulmões
num espaço mediastino, ocupando uma leve depressão do pulmão
esquerda chamada leito do coração.
O senhor Jorge Spiropoulus de desenho, com a régua, insistia para
acharmos a perspectiva de algum objeto. Se sabemos algum ponto de trico
ou bordado, devemos a Dona Noemia, mãe de Marilda esposa de Barquet
Miguel.
Com Dona Dilu, cantávamos na primeira e segunda voz: ACORDA
DORMINHOCO QUE O SINO ESTÁ A TOCAR.
Senhor Lourenço de latim insistia no QUI, QUE, QUOD. E a Dona Neuza
de francês que me deixou fazer a 3a. série por três
vezes, pelo menos me ensinou o JET'AIME. Nesta época minhas grandes
amigas eram, Fida Aude, Marilia Graupner e Cristina Silva Costa, através
das quais cumprimento as demais. Foi um tempo maravilhoso que eu diria
uma fase de gata borralheira light, pois eu tinha que ajudar nas tarefas
domésticas, e na noite virava Cinderela.
Terminei o Ginásio em 1962, fui cursar Secretariado na Escola SENAC
"José Gomes da Silva" e já trabalhava como secretária
do curso normal do Colégio Metodista.
No Senac formei a biblioteca da escola, já usando os conhecimentos
da biblioteconomia; Fazia parte do time de vôlei e sempre tive grande
admiração pelo nosso diretor Sr. Laercio Neves Zucoloto,
e tive a honra de ser aluna de grandes mestres como: Sivaldi, De Lazzari,
Paulo Tupinamba e outros mais. Das colegas vou distinguir Sueli Danhone,
Presidente da Casa das Mangueiras, na pessoa da qual saudo as outras 13
colegas. Formei-me em 1965 e já trabalhava desde 1964, como secretária
da Associação de Ensino. Também fui a primeira secretária
do COC, no sistema Colegial Integrado. Trabalhava de dia e fazia Direito
à noite, em 1971 me formei. E também no dia 31 de dezembro
do mesmo ano, me casei com João Pedro Biagi Bighetti, sinto que
neste tempo eu vivi o sonho Frances Hart. Quando assisti o filme sobre
sua vida, também queria ser como a protagonista ter: uma casa,
um jardim e um cachorro, o que significava ser FELIZ. Fui morar na fazenda
Santa Rosa, onde Dona Olga e o Sr. Joanin (minha grande paixão)
moraram por 30 anos.
Aqui abro um parenteses para falar de outra grande mulher que significou
muito na minha vida.
Minha sogra Dona Olga, uma mulher simples, não humilde, forte,
trabalhadeira, verdadeira e compreensiva, a qual eu admiro muito.
Nesta época eu era muito feliz, e se for preciso voltar no tempo,
voltaria e faria tudo novamente. Em 25 de novembro de 1972, tive a maior
alegria de minha vida, nasceu uma robusta menina que ganhou o nome de
LEANDRA VIEIRA BIGHETTI, e no dia 06 de agosto de 1974, outra grande felicidade
para nós, nascia LARISSA. Nessa fase de minha vida, morava na roça,
ajudava muitas vezes a fazer partos, encaminhar pessoas doentes a cidade
e também, ajudava creches em Cravinhos e Ribeirão.
Em 1977, tive a primeira perda de minha vida, faleceu meu pai. Nesta época
eu me sentia a própria Scarlet O'hara, pois quando ela jurou que
não passaria mais fome, eu também jurei que não pagaria
mais juros altos.
No dia 13 de novembro de 1983, o João vêm a falecer, acometido
de uma pancreatite aguda, me senti derrotada por não ter conseguido
ajudá-lo, e muito agredida pela morte. Foi uma fase de muita solidão,
acompanhada pela minha mãe, e pelas minhas filhas.
Também percebi que se não começasse a trabalhar eu
não conseguiria sustentar minha casa. E a fazenda jurei ao João
que não venderia nenhum pedaço, ela serias das meninas.
Um dia conversando com Elmara Bonini Corauci, ela me ofereceu lugar de
colunista em um jornal que iria abrir. Em outubro de 1985, saiu o primeiro
número do Jornal de Ribeirão, no qual assinei uma coluna
por 8 anos.
Gostaria de lembrar, que meu grande amigo Bruno de Lacerda, foi quem me
ensinou. Foi um início difícil e incompreendido. Não
liguei; fiz igual Chiquinha Gonzaga, ela na música e eu no colunismo,
e as duas juntas lutando pela liberação da mulher.
Um dos primeiros eventos que fiz, foi a SEMANA DA MULHER no Ribeirão
Shopping, um sucesso que se repetiu pôr 9 anos, em consequência
deste evento comecei a realizar o ALMOÇO DAS EXECUTIVAS, que promovo
até hoje. A Feijoada da Neusa, amanhã comemora seus 10 anos.
Na parte da benemerência sempre procurei dar apoio para creches,
e instituições de caridade. Também procuro estar
sempre presente nos eventos culturais de nossa cidade, valorizando nossas
raízes.
Sou membro da Federação Brasileira de Colunistas Sociais
(FEBRACOS) e, sócia fundadora da APACOS (Associação
Paulista de Colunistas Sociais) e pertenço a ABRAJET (Associação
Brasileira de Jornalistas e Escritores de Turismo).
Falando em turismo, em 1986, a convite da Embarque Turismo, fiz minha
primeira viagem a Disney e depois desta fiquei internacional, Virei um
ICARO, já que não me lembrei de nenhuma figura feminina
nesta fase.
Na França, consegui entrevistar Jacques Chirac, que na época
era prefeito de Paris, no Brasil, já entrevistei mais de 100 artistas
e personalidades, dentre esses a lembrança de Ayrton Senna, que
tive o prazer de fazer uma matéria. Já posso dizer que conheço
muitos países, mas minha paixão é por Ribeirão
Preto. da qual não sou filha, mas me sinto como tal.
Hoje escrevo social no Jornal Enfim, além de apresentar meu programa
semanalmente pela TV Thathi 100% Ribeirão.
Quero agradecer a Barquet Miguel e a Câmara Municipal por essa homenagem
que ficará na minha memória.
Quero também agradecer a minha amiga Bia Mestriner que veio abrilhantar
com sua linda voz, minhas raízes e meus convidados.
Mando um abraço especial ao amigo e irmão Dr. Raul Gonzales,
pelo ser humano que ele representa. E minha grande amiga Julieta Taranto
que sempre demonstrou seu amor e admiração por mim, o que
tenho tentado retribuir revertendo para a Creche Modelo da Vila Virgínia,
da qual ela é presidente e, que hoje nos brindou com esse coral
maravilhoso.
À Cida que está conosco a 15 anos, não sei se é
uma filha, ou se sou quem é filha dela, pois ela é quem
me dá todo o respaldo dentro do meu lar para eu poder me dedicar
ao trabalho.
Gostaria de agradecer a todas as pessoas que colaboraram para essa homenagem,
e são vocês que eu homenageio, pôr saber que hoje conto
com amigos sinceros como vocês. Agradeço também a
todos os presentes tanto de Ribeirão como de Cajuru, pelo carinho
e dedicação.
Minhas filhas:
Vocês são a razão de minha vida, e me orgulho do modo
de ser e estar de vocês.
Leandra, meu São Francisco de saia, conversa com animais e está
feliz com sua profissão de retireira, levanta às 5 da manhã,
faz a ordenha, entrega o leite no ponto, corta capim e faz trato para
os animais, só vai descansar às 8 da noite, quando se recolhe.
Larissa é química na Coca-Cola, também levanta as
5:30 da manhã, há dois anos formou-se pela Unesp de Araraquara,
e agora está se preparando para o Mestrado.
Das minhas filhas além do que já falei, gostaria de deixar
somente mais uma pequena frase:
"MINHAS FILHAS: VOCÊS SÃO AS PESSOAS MAIS IMPORTANTES
DA MINHA VIDA, E AS AMO MUITO".
E nesta noite não vou me comparar a nenhuma grande personagem:
SOU NEUSA CELESTE VIEIRA BIGHETTI
CIDADÃ RIBEIRÃOPRETANA E FILHA PREDILETA DE DEUS.
Muito Obrigada.
|
|
|