A escritora, Neusa Celeste Vieira Bighetti, tomou posse na Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto (ALARP)

A festa de posse foi realizada no dia 1º de outubro de 2004, no Deck Renato Aguiar, com a presença dos integrantes da Academia, amigos e convidados da homenageada. Foi empossada na cadeira nº 61, que tem como patrono o fundador do jornal “A Cidade”, Orestes Lopes de Camargo. A filha do jornalista e empresário, Jandyra de Camargo Moquenco e, a neta Vera Lúcia Moquenco Figueiredo prestigiaram a posse e se emocinaram com o discurso de Neusa que foi sobre a vida do patrono.

Natural de Cajuru, Neusa concluiu o curso de jornalismo no final do ano de 2004, mas desde 1971 é formada em direito pela UNAERP. "Fazer a faculdade de jornalismo foi uma experiência maravilhosa para mim. Aprendi muito nesses quatro anos", comenta Neusa.
Desde 1983 trabalha como colunista social em jornais e revistas de Ribeirão Preto: Jornal de Ribeirão, Enfim e a Revista Revide. Em 1993, na Record, lançou um programa na TV, passou pela TV THATHI e hoje está no Canal da Cidade, 20 NET, aos domingos 11h30 e 19h30, com reapresentações na quinta-feira 21h30 e sábado 21h.

 
Viúva de João Pedro Biagi Bighetti, Neusa tem duas filhas : Leandra e Larissa. "Já recebi várias homenagens na cidade. Sou cidadã ribeirão-pretana, mas a entrada na Academia foi um momento muito especial da minha vida. A festa estava com um astral muito bonito, com a presença de meus amigos e familiares", relembra
Neusa, acrescentando que teve a felicidade de contar com a presença da mãe, Brígida Vieira, de 85 anos, na festa de posse. Antes de entrar na Academia, Neusa publicou cerca de 500 artigos em jornais e revistas, além de publicar um livro "Deles eu tenho inveja", em 2000.

A paraninfa de Neusa foi Julieta Taranto que fez uma brilhante oratória:

Quando pensamos na trajetória de uma vida imaginamos que ela carrega muitas surpresas e acontecimentos. E é assim que vimos o caminhar de Neusa Bighetti, mulher de fibra que soube imprimir à sua existência, criatividade, saber, coragem e caridade. Da adolescência à idade adulta Neusa batalhou, trabalhando e estudando.
O término de seu curso de direito no ano de 1971 não foi feito do acaso, do casual, foi o resultado do afinco, do vigor e do trabalho. Neusa de posse dos seus diplomas, partiu para ramos afins: imprensa escrita e televisiva.
Há os que passam pela vida estiolando, mas você soube garimpar alegrias, nas durezas das pedras, forças para enxergar o sol que germina as sementes, e você Neusa com uma pequenina restea de sol soube florir a sua caminhada.

A televisão de Neusa é um retrato da sociedade de nossa cidade, suas festas, seus eventos, suas datas históricas, suas datas culturais. Enfim é o retrato de corpo inteiro de Ribeirão Preto. Neusa revestiu de poesia a existência moderna desta nossa cidade. Sua TV é um romance, uma pintura de nossa sociedade, nossa vida, nossos costumes.
Para a força de uma idéia é de grande importância que haja por trás dela um condutor, com a independência de quem conversa com a verdade. É isto que se exige da boa reportagem, no fim e no meio: Honrar a verdade.

Os holofotes de suas reportagens, sempre estão voltados para o sucesso. O carro chefe de suas exposições é a valorização dos empreendimentos fazendo lembrar os versos de Fernando Pessoa:
Boas maneiras da alma
Elegância de persistir...
Neusa querida o que eu penso de você.

Mulher avançada pra frente
Para o que der e vier
Porém, terna, humana gente.
Acima de tudo mulher.

 
 
Discurso da Neo-Acadêmica Titular Neusa Celeste Vieira Bighetti

ORESTES LOPES DE CAMARGO

Antes de começar a minha fala, eu quero agradecer à magnífica reitora da UNAERP, Elmara Lúcia Bonini Corauci, que foi quem me convidou para ser colunista social há 20 anos. Foi o início de tudo. E a Tia Julieta Taranto, por ser a minha paraninfa nesta noite inesquecível.
Eu sempre digo que tudo na vida é bumerangue. Vai e volta. Quando mudamos de Cajurú para Ribeirão, uma das primeiras amigas que conquistei foi a Dedélha, neta do Seu Orestes, filha da Dona Jandyra. Assim, eu não saía do jornal A Cidade, com a desculpa de ver a amiga. Na semana passada, lá no jornal, estava a Augusta, também filha de Dona Jandyra e, ela me lembrou que eu não ia na Cidade atrás da Dedélha, mas sim para ver um vizinho deles chamado Jarbinhas. Quando a Tia Julieta me convidou para fazer parte da ALARP, já fiquei muito lisonjeada e, honrradíssima por ter como patrono o nome de Orestes Lopes de Camargo, que não só deixou um legado de bens, mas o principal: o exemplo de uma vida de honestidade, simplicidade e profissionalismo.

Que têm em comum Ulisses Guimarães, Ademar de Barros, Paulo Maluf, Antônio Ermírio, Orestes Quércia, Severo Gomes, Mário Covas, Abreu Sodré? Todos eles passaram pela sala se seu Lopes, Orestes Lopes de Camargo, diretor-presidente de “A Cidade”, líder da imprensa ribeirãopretana há décadas.
Orestes Lopes de Camargo nasceu a 21 de fevereiro de 1900, em Rio Claro, filho único de um casal de posses, Cândido de Camargo e Augusta Lopes de Camargo. Passou a infância num sobrado na rua Augusta, em São Paulo. Em 1917, conheceu aquela que seria o grande amor de sua vida: Maria Casagrande Lopes, mais conhecida por dona Amália. No início da década de 20, Orestes e Amália casaram-se em São Paulo. Diplomado em contabilidade (na época guarda-livros), lançou-se com a jovem esposa ao desafio de iniciar carreira e construir família no interior paulista. Com a filha Jandyra, nascida em 1921, mudaram-se para Ribeirão Preto. O primeiro emprego, de guarda-livros na gráfica Barillari, foi também o único: em pouco tempo o destino se encarregaria de integrar definitivamente Orestes à trajetória de A Cidade. No jornal A Cidade sua primeira função foi a de revisor. Os anos se passaram, vieram mais filhos: Jurandir (nascido em 1924 e morto em 1940) e Juracy (nascida em 1926).

A passagem dos anos 20 para os 30 não foi das mais fáceis. A crise mundial de 1929 trouxe graves reflexos à economia da região, baseada no café. No início da década de 30, Orestes já tinha ajuda da mulher no sustento da família. Dona Amália fornecia comida numa pensão localizada defronte ao jornal. No salão, os principais fregueses eram guardas-civis. Já as famílias mais abastadas compravam marmitas entregues pelos filhos Jandyra e Juracy, após a volta da escola. 1936 foi ano na vida de Orestes. Renato Barillari havia se afastado da direção do jornal. Seu irmão Mário, que assumiu o negócio ofereceu ao guarda-livros e revisor Orestes. A princípio, ele teve receio, não tinha dinheiro para um salto tão grande. Como não haviam outros interessados, a família Barillari propôs uma venda facilitada em várias prestações. Orestes encarou o desafio e comprou A Cidade. A ajuda de Dona Amália, fornecendo marmitas foi imprescindível nesse período. Por mais de 10 anos, a pensão na frente do jornal continuou ajudando no sustento da família. Até 1956 a sede do jornal era um velho barracão no mesmo terreno onde está hoje o jornal. Com o passar dos anos, a construção foi-se deteriorando, até exigir sustento com caibros. Quando chovia o jornal era impresso na marra, em meio a inúmeras goteiras. Quando faltava o papel, Amália pedia emprestado a monsenhor João Laureano, do Diário de Notícias, e trazia uma resma de 60 quilos equilibrando-a sobre a cabeça.

O fim do período de dificuldades é marcado pela inauguração do atual prédio concluído em 1962. Os filhos Juracy e Jandyra passaram a ter participação cada vez mais ativa na administração do jornal. Orestes e Dona Amália continuaram trabalhando até a morte. Dona Amália morreu em 1986 e foi homenageada pelo poder público – empresta o nome ao conjunto habitacional Maria Casagrande Lopes. Seu Orestes, completamente lúcido recebendo políticos em sua sala, escreveu sua coluna diária até pouco antes de morrer em 1993. Dá o nome à avenida de acesso ao Jóquei Clube – Parque Permanente de Exposições. Foi a primeira vez que a Câmara Municipal batizou um logradouro público com o nome de uma pessoa viva. E também tem um conjunto habitacional com seu nome.

Hoje o jornal A Cidade está com nova administração, Maria Virgínia Lopes de Camargo Cordeiro, que começou como revisora, é jornalista e professora, assumiu a direção administrativa do jornal. Orestes de Camargo Moquenco, o Orestinho, é jornalista responsável pela página de automobilismo. Vera Lúcia de Moquenco Figueiredo, juntamente com sua mãe, Jandyra, cuidam da parte comercial do jornal.

Finalizando eu diria que falar de Orestes Lopes de Camargo é falar do professor que era aprendiz.
Como estou participando da ALARP, e a academia costuma fazer saraus com poesias, recitais e cantos, eu vou declamar uma poesia que não sei o título nem o nome do autor, mas tenho na cabeça guardada há muitos anos:

Ontem, eu queria ser poetisa, ter inspiração, saber compor
E depois para a vida ser completa eu também queria compreender o amor
Mas hoje eu vejo que o poeta é infeliz e a inspiração é apenas saudade
E o amor? O amor que eu tanto quis, compreendi que não é realidade
Mesmo assim, meu destino eu sigo, tentando enganar a própria dor,
fingindo crer em tudo o que eu digo e dizendo que eu creio no amor.

Agora vocês vão ver uma seqüência de fotos, desde a minha infância até os dias atuais, montada pela equipe de Douglas Fotografia, tendo como fundo musical Onde Deus Possa Me Ouvir, cantada por Gal Costa.