Discurso da Neo-Acadêmica Titular
Neusa Celeste Vieira Bighetti
ORESTES LOPES DE CAMARGO
Antes de começar
a minha fala, eu quero agradecer à magnífica reitora da
UNAERP, Elmara Lúcia Bonini Corauci, que foi quem me convidou para
ser colunista social há 20 anos. Foi o início de tudo. E
a Tia Julieta Taranto, por ser a minha paraninfa nesta noite inesquecível.
Eu sempre digo que tudo na vida é bumerangue. Vai e volta. Quando
mudamos de Cajurú para Ribeirão, uma das primeiras amigas
que conquistei foi a Dedélha, neta do Seu Orestes, filha da Dona
Jandyra. Assim, eu não saía do jornal A Cidade, com a desculpa
de ver a amiga. Na semana passada, lá no jornal, estava a Augusta,
também filha de Dona Jandyra e, ela me lembrou que eu não
ia na Cidade atrás da Dedélha, mas sim para ver um vizinho
deles chamado Jarbinhas. Quando a Tia Julieta me convidou para fazer parte
da ALARP, já fiquei muito lisonjeada e, honrradíssima por
ter como patrono o nome de Orestes Lopes de Camargo, que não só
deixou um legado de bens, mas o principal: o exemplo de uma vida de honestidade,
simplicidade e profissionalismo.
Que têm em comum Ulisses
Guimarães, Ademar de Barros, Paulo Maluf, Antônio Ermírio,
Orestes Quércia, Severo Gomes, Mário Covas, Abreu Sodré?
Todos eles passaram pela sala se seu Lopes, Orestes Lopes de Camargo,
diretor-presidente de “A Cidade”, líder da imprensa
ribeirãopretana há décadas.
Orestes Lopes de Camargo nasceu a 21 de fevereiro de 1900, em Rio Claro,
filho único de um casal de posses, Cândido de Camargo e Augusta
Lopes de Camargo. Passou a infância num sobrado na rua Augusta,
em São Paulo. Em 1917, conheceu aquela que seria o grande amor
de sua vida: Maria Casagrande Lopes, mais conhecida por dona Amália.
No início da década de 20, Orestes e Amália casaram-se
em São Paulo. Diplomado em contabilidade (na época guarda-livros),
lançou-se com a jovem esposa ao desafio de iniciar carreira e construir
família no interior paulista. Com a filha Jandyra, nascida em 1921,
mudaram-se para Ribeirão Preto. O primeiro emprego, de guarda-livros
na gráfica Barillari, foi também o único: em pouco
tempo o destino se encarregaria de integrar definitivamente Orestes à
trajetória de A Cidade. No jornal A Cidade sua primeira função
foi a de revisor. Os anos se passaram, vieram mais filhos: Jurandir (nascido
em 1924 e morto em 1940) e Juracy (nascida em 1926).
A passagem dos anos 20 para
os 30 não foi das mais fáceis. A crise mundial de 1929 trouxe
graves reflexos à economia da região, baseada no café.
No início da década de 30, Orestes já tinha ajuda
da mulher no sustento da família. Dona Amália fornecia comida
numa pensão localizada defronte ao jornal. No salão, os
principais fregueses eram guardas-civis. Já as famílias
mais abastadas compravam marmitas entregues pelos filhos Jandyra e Juracy,
após a volta da escola. 1936 foi ano na vida de Orestes. Renato
Barillari havia se afastado da direção do jornal. Seu irmão
Mário, que assumiu o negócio ofereceu ao guarda-livros e
revisor Orestes. A princípio, ele teve receio, não tinha
dinheiro para um salto tão grande. Como não haviam outros
interessados, a família Barillari propôs uma venda facilitada
em várias prestações. Orestes encarou o desafio e
comprou A Cidade. A ajuda de Dona Amália, fornecendo marmitas foi
imprescindível nesse período. Por mais de 10 anos, a pensão
na frente do jornal continuou ajudando no sustento da família.
Até 1956 a sede do jornal era um velho barracão no mesmo
terreno onde está hoje o jornal. Com o passar dos anos, a construção
foi-se deteriorando, até exigir sustento com caibros. Quando chovia
o jornal era impresso na marra, em meio a inúmeras goteiras. Quando
faltava o papel, Amália pedia emprestado a monsenhor João
Laureano, do Diário de Notícias, e trazia uma resma de 60
quilos equilibrando-a sobre a cabeça.
O fim do período
de dificuldades é marcado pela inauguração do atual
prédio concluído em 1962. Os filhos Juracy e Jandyra passaram
a ter participação cada vez mais ativa na administração
do jornal. Orestes e Dona Amália continuaram trabalhando até
a morte. Dona Amália morreu em 1986 e foi homenageada pelo poder
público – empresta o nome ao conjunto habitacional Maria
Casagrande Lopes. Seu Orestes, completamente lúcido recebendo políticos
em sua sala, escreveu sua coluna diária até pouco antes
de morrer em 1993. Dá o nome à avenida de acesso ao Jóquei
Clube – Parque Permanente de Exposições. Foi a primeira
vez que a Câmara Municipal batizou um logradouro público
com o nome de uma pessoa viva. E também tem um conjunto habitacional
com seu nome.
Hoje o jornal A Cidade está
com nova administração, Maria Virgínia Lopes de Camargo
Cordeiro, que começou como revisora, é jornalista e professora,
assumiu a direção administrativa do jornal. Orestes de Camargo
Moquenco, o Orestinho, é jornalista responsável pela página
de automobilismo. Vera Lúcia de Moquenco Figueiredo, juntamente
com sua mãe, Jandyra, cuidam da parte comercial do jornal.
Finalizando eu diria que falar
de Orestes Lopes de Camargo é falar do professor que era aprendiz.
Como estou participando da ALARP, e a academia costuma fazer saraus com
poesias, recitais e cantos, eu vou declamar uma poesia que não
sei o título nem o nome do autor, mas tenho na cabeça guardada
há muitos anos:
Ontem, eu queria ser poetisa,
ter inspiração, saber compor
E depois para a vida ser completa eu também queria compreender
o amor
Mas hoje eu vejo que o poeta é infeliz e a inspiração
é apenas saudade
E o amor? O amor que eu tanto quis, compreendi que não é
realidade
Mesmo assim, meu destino eu sigo, tentando enganar a própria dor,
fingindo crer em tudo o que eu digo e dizendo que eu creio no amor.
Agora vocês vão
ver uma seqüência de fotos, desde a minha infância até
os dias atuais, montada pela equipe de Douglas Fotografia, tendo como
fundo musical Onde Deus Possa Me Ouvir, cantada por Gal Costa. |
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